A comunicação na sociedade globalizada ao observar o momento atual da sociedade, levando em consideração os efeitos da globalização na produção de culturas híbridas e principalmente nas Indústrias Culturais, podemos perceber que a comunicação é uma verdadeira força social, capaz de influenciar decisões políticas, determinar a produção econômica através da fábrica de desejos da publicidade, criar mitos de referência cultural reconhecidos globalmente, como Mickey Mouse ou Super-Homem.
A comunicação foi uma das forças emergentes no século XX, e nada faz parecer que ela perderá seu poder nesse começo de século XXI. Fica fácil, portanto, perceber como uma série de paradigmas que tentam compreender nossa sociedade tem como pontos centrais a comunicação, independente da forma como ela é encarada. Sociedade do espetáculo, aldeia global, sociedade em rede, sociedade do controle, da informação e várias outras maneiras de enxergar o mundo durante o século XX entendem que, boa ou má, a comunicação é parte viva do mundo globalizado.
Um dos trabalhos mais importantes nesse sentido foi o primeiro volume de
A sociedade em rede, de Manuel Castells (1999). Partindo de uma análise das transformações políticas e econômicas em escala global, o autor pôde perceber que a sociedade se organiza agora em formas relativamente novas se comparadas às estruturas hegemônicas do século XX.Na economia, ele destacou o surgimento de um novo modo de produção capitalista, o pós-fordismo (ou “toyotismo” para outros). Esse modo de produção se caracteriza principalmente por trazer à tona a importância da produção especializada e customizada para atingir clientes de diferentes interesses. Isso só se tornou possível superando o modelo da linha de montagem fordista, as estruturas rígidas de organização tayloristas e valorizando fábricas altamente robotizadas, informatizadas e unidades de produção interconectadas para uma produção mais eficiente e veloz. Em termos organizacionais, isso só se tornou possível com estruturas em rede capazes de dar conta do dinamismo desse tipo de produção.
Na esfera política, Castells também percebeu uma descentralidade das relações entre as nações com o fim da Guerra Fria. A formação de blocos econômicos revelava também proximidades culturais e políticas entre os países, formando dessa maneira “redes sociais” de nações, todas interconectadas, em última instância, por entidades supranacionais como a ONU ou o Banco Mundial.
Com base nessas análises, o autor espanhol afirmou que a sociedade contemporânea se caracteriza como uma sociedade em rede, um dos paradigmas sociológicos mais em voga atualmente. Castells destaca em seu livro dois pontos especialmente interessantes para este trabalho: em primeiro lugar, ele assume como uma importante causa para a formação dessa sociedade o desenvolvimento de Novas Tecnologias Informacionais de Comunicação (NTICs), sem as quais não haveriam meios de articular organizações em rede globalmente; além disso, ele destaca as disparidades no quadro mundial de desenvolvimento econômico e social, mostrando o abismo existente entre países pobre e ricos, ou desenvolvidos, subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Se compararmos esses dois dados, não é difícil supor que países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento, que possuem menos acesso às NTICs e às demais ferramentas de comunicação estarão sob controle ou, no mínimo, sob forte influência do capital estrangeiro de países mais desenvolvidos, e isso se reflete de uma forma bastante específica na centralidade dos países ricos na produção de informação. Estimativas da década de 1980 (UNESCO, 1980) indicavam que os 15 principais grupos de comunicação pertenciam a apenas 4 países da Europa Ocidental e os EUA.Jesús Martin-Barbero (2004) faz uma análise desse quadro de desigualdade e revela, na América Latina, certas tendências da globalização econômica em se refletir sobre novos “dispositivos de propriedade” de mídia.
Duas são as tendências mais notórias neste plano. Uma, a conversão dos grandes meios em empresas ou corporações multimídia, seja por desenvolvimento ou fusão dos próprios meios impressos, rádio ou televisão, ou pela absorção dos meios de comunicação por parte de grandes conglomerados econômicos; e a segunda, a desorientação e reconfiguração da propriedade.(1) (MARTÍN-BARBERO, 2004)
Os exemplos usados para fortalecer seu argumento não poderiam ser mais contundentes. Grandes fusões de empresas e formação de conglomerados de comunicação nos EUA já fazem parte do cotidiano. Podemos notá-lo no histórico de consecutivas fusões de empresas de comunicação como a TIME. Sua primeira grande fusão mais recente foi com a Warner (cinema), logo depois comprou o grupo japonês Toshiba (televisores), em seguida a CNN (canal de notícias) e hoje controla a AOL (provedor de internet), tornando assim um dos três grandes conglomerados de mídia do país. Como é natural no processo de globalização, esses conglomerados rapidamente extrapolam as fronteiras nacionais, passam a exportar conteúdo, fundar filiais e fazer acordos com empresas de mídia locais até o momento em que passam a ter poder acionário em diversos países. Esse é o caso da News Corporation Limited (controla as redes de canais FOX, entre vários outros), que pertence a Robert Murdoch. Ela já conta hoje com participação nos dois maiores grupos de comunicação da América Latina, O Globo e Televisa.
Além disso, existem os conglomerados em formação na própria América Latina. Dois bons exemplos são o grupo Clarín, na Argentina, que partiu de um jornal diário e hoje já atua em todos os principais meios; e o grupo Abril, no Brasil, que tem participação em um canal de TV, rádios, várias revistas semanais, sites da internet e até mesmo gravadoras de discos. Há pouco tempo, o grupo Abril era ainda o dono da TV por satélite DIRECTV, mas esta se fundiu com a concorrente SKY, que pertence ao grupo Globo. E não é tudo: o grupo Abril tem acordos com a Disney e é a dona da Mtv Brasil.
Aos poucos, podemos perceber que as conexões entre as empresas de comunicação se mostram muito mais complexas do que aparentam inicialmente, e fica extremamente subjetivo julgar até que ponto isso atinge a qualidade do produto final. A única maneira de garantir que não existam abusos ou violações dos interesses da sociedade seria através de regulamentações e políticas públicas, mas isso está muito longe da realidade.
Os dois relatórios mais importantes da Unesco sobre comunicação e sociedade, o Relatório Macbride (UNESCO, 1980), e o mais recente, intitulado Da Sociedade da Informação para a Sociedade do Conhecimento (UNESCO, 2005), mostram que a falta de regulamentação nos meio de comunicação não é novidade, e tampouco o são as disparidades nos fluxos de informação entre diferentes países. Extremamente ricos em dados, os dois relatórios mostram que esse quadro não é mera especulação de sociólogos de esquerda, mas uma realidade do mundo globalizado
Apesar da falta de políticas de comunicação para regulamentar a mídia e dar incentivos capazes de reduzir a diferença entre a produção de mídia nos países menos desenvolvidos, o relatório mais recente mostra um elemento novo no balanço da equação: a emergência da comunicação em rede propiciada pelas NTICs.
Apesar das imensas barreiras ainda existentes ao acesso à informação, como o analfabetismo, por meio de tecnologias como a internet, vem se tornando cada vez mais plausível criar meios para que comunidades pouco favorecidas economicamente possam produzir sua própria mídia fora da esfera das corporações e seus conglomerados, que controlam o mercado criam barreiras para a democratização da comunicação.
http://www.logos.uerj.br/PDFS/28/09_DanielMartinsresenha.pdf